domingo, 7 de outubro de 2012

Ontem de madrugada

1 hora e 25 minutos da manhã. É sempre nestas alturas que a minha cabeça mais se enche de coisas e eu não consigo, por mais que tente, expeli-las. E é quando chegam essas alturas, que me agarro ao computador, mesmo sabendo que devia estar a dormir, e escrevo. Mas escrever acaba por não resolver. Expulso aqui mas, mal me vou deitar, é como uma inundação inesperada mas que no entanto, eu já sabia que aí vinha. Tenho a cabeça cheia. Cheia de palavras, de rostos, de expressões, de momentos. Momentos esses que eu ainda tento agarrar, numa esperança infinita. Dói por dentro não ter agora o que um dia tive. Dói agarrar-me a vultos que vagueiam na minha cabeça. Na minha e na de mais ninguém. Porque ninguém compreende. Eles bem tentam e dizem que sabem o que sinto. Nunca o saberão até lhes acontecer. E mesmo aí, continuarão sem saber. Porque a cada um, acontece de forma única e excitante. Continuo teimosa, a dizer que não mereço. Continuo fantasiosa, pensando que se calhar, é mentira. Se calhar voltas. Ou pelo menos, eu assim gostaria que fosse. Custa-me doer o peito a cada inspiração. Custa-me ter o direito de fazê-lo e tu não. Dizem que com o tempo, isto passa. Há mais de nove anos anos que espero. Se diminuiu? Um pouco. Se esqueço? Quando estou ocupada. Mas depois chegam estas alturas, que me matam a alma. Odeio o Natal. Odeio estas alturas de alegria em que sei que não consigo tê-la toda. Falta sempre algo. Faltas tu. E por segundos, deixo de conseguir fazer comédia, deixo de saber rir, e penso "outra vez isto não". Deprimes-me. Ou pelo menos, a tua ausência. Todo o tempo do mundo contigo nunca iria chegar para me encher de satisfação. Então sento-me aqui, egoísta e cheia, cheia de tudo o que é mau. Egoísta porque só consigo pensar em mim. Na falta que me fazes, nas coisas que me vejo impossibilitada de partilhar contigo. Porque continuo a recusar-me a falar para um espírito. E no entanto, acabo por falar todas as noites com um. Cada lágrima, cada "gostava que aqui estivesses", não é no fundo uma conversa? Uma conversa que só nós entendemos. Uma conversa que me custa, porque chorar dói-me. Sempre doeu. Partilho do teu orgulho, do teu pouco à-vontade para fazê-lo à frente dos outros, de dar a parte fraca. Nunca funcionámos assim. Nem eu, em pequena, me deixava cair perante ti. E agora, por ti, encontro-me a cair por toda a parte. É a ironia da vida. E falar de vida agora, também é uma ironia. Perco a vontade toda de viver quando estou assim. Não digo com isto que preferia morrer, mas bastava-me ficar isolada, privar-me do mundo. Se tu não estás, qual é o objectivo? Tenho outras pessoas, eu sei. Tenho vidas em mim. Só vivo por essas vidas, por essas partes que me completam. E eles esforçam-se tanto por compreender. Mas não têm como. E eu também não os deixo. Continuo a fazer como tu, isolar as pessoas do nosso mundo é mais fácil. Deixa-nos estar à nossa maneira, de queixo erguido e apelidados de loucos e solitários. Sempre estivemos juntas. Sempre... Palavra engraçada. Sempres que duram tão pouco. O nosso sempre, dez anos. E pronto, faltam-me as palavras, o meu peito contrai-se, mais uma vez, para impedir lágrimas e eu às tantas já nem sei o que digo. Queria que aqui estivesses, é verdade. Queria saber o que achas das minhas decisões, o que terias a partilhar comigo sobre a actualidade, a política e a maneira como eu canto. Que histórias fascinantes ou terríveis me terias para contar. Já que ninguém me conta nada. Terei eu de crescer e esperar que venhas ter comigo já de velha para saber toda a tua vida? Mas tu sabes que eu não sou assim. Provavelmente nunca mais te vou ver. Continua a custar. Não há um dia que não custe. Ainda me culpo, não sei do quê. Talvez pudesse ter evitado. Ou talvez isso seja coisa que não se evita. E também acho que "talvez" já é palavra que estou a usar em demasia. Pensava que isto me ia esvaziar a cabeça, mas só me encheu os olhos. Até um dia ou até nunca. Mas lembra-te, eu amo-te sempre igual.

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