5 de outubro de 1997, dia em que a vi pela primeira vez, é o meu primeiro dia no novo liceu, The Metropolitar High School, desde a morte da minha mãe , que nada tem sido fácil, houve muitos momentos em que só pensei em desistir e acabar com tudo ate com a própria vida. Eu e o meu pai nunca fomos muito próximos, ele sempre trabalhou muito e raramente estávamos juntos, sempre foi um homem serio e frio , e o meu irmão..bem, esse é a única razão pela qual eu não desisto e acabo com a vida que já não faz sentido, ele é a pessoa por quem eu luto e lutarei ate ao fins dos meus dias.
Sempre fui bom
aluno, sempre dei o melhor de mim, sabia que essa era a minha obrigação. Nunca
acreditei em mim, sempre achei que não seria capaz de alcançar os meus objectivos
, mas a minha mãe sempre me motivou , todos os dias se esforçava para me
convencer que um dia eu seria alguém , ela sempre me disse que mesmo que eu não
acreditasse em mim ela o faria, dizia que nunca duvidaria de mim nem do meu
irmão e por essa razão eu me esforçava e lutava para interiorizar essas
palavras dentro de mim.
Se antes não
acreditava em mim, hoje muito menos. Toda a motivação que durante anos me deu,
num dia ela desapareceu, o dia da sua morte…
O meu pai não
entende que desde que a perdi, também perdi metade de mim , já não sou a pessoa
que era, perdi a vontade de lutar pelos meus sonhos, porque apesar de tudo o
meu maior sonho sempre foi partilha-los com ela.
Mas agora outros
assuntos…hoje encontrei uma pessoa que não esperava, já não a via desde o
primeiro ano de liceu. Estava no Grumpy ,o café onde eu e a minha mãe
costuma-vos ir . Hoje tornou-se um habito vir cá passar para o papel a confusão
que vai dentro de mim. Foi quando ela apareceu incrivelmente estava como eu a
lembrava, com o seu sorriso tímido , os olhos que sempre me pareceram azuis e
que ela teimava que eram cinza, o
inconfundível jeito simples dela ,fez-me recordar a velha paixão que sentia no liceu. Falamos durante horas, como já não o
fazíamos a anos, o Grumpy fechou mas nem por isso a conversa terminou, a Emma
quis mostrar-me a faculdade que
frequentava. Desde que aqui estou, que esta foi a tarde melhor passada, falamos
do que se se tem passado nas nossas vidas, rimos, choramos, brincamos ate que
já estava a ficar tarde e o seu pai começara a ficar preocupado e tivemos de
nos despedir, mas combinamos encontrar-nos no dia seguinte ao fim da tarde no
Grumpy, pois a Emma só terminava as aulas ás 18:00 .
Ao contrário de
mim ela era uma excelente aluna, eu acabei por abandonar os estudos eu sei que
não o devia ter feito mas para mim já não fazia mais sentido continua-los. Foquei-me na “ma vida” e nela fiquei. Quando
antes apenas bebia para me divertir hoje, bebo para esquecer…
7 de Outubro de 1997
Mais um aniversario
passou, mais um aniversario sem ela, fiz 21 anos, desta vez foi um pouco
diferente. Nunca gostei de presentes mas ontem recebi um presente de alguém
especial, a Emma ofereceu-me um
bilhete para irmos juntos assistir ao grande concerto dos U2 . Aconteceu algo
que eu não esperava, foi algo magico ao mesmo tempo inacreditável, se alguns
dias atrás duvidava do que sentia por ela, agora não o duvido nem por um
segundo depois do nosso primeiro beijo ontem ao som da musica “one” eu posso
dizer com toda a certeza que a amo. Acredito que pareça estranho passar a amar
uma pessoa em tão pouco tempo, eu não sei, mas a maneira como ela sorri, como
ela pronuncia o meu nome, certas e delicadas expressões que me fazem
relembra-la, a minha mãe.
14 de Novembro de 1999
Já la vao cerca
de 2 anos com ela, cada dia que passa novas memorias preenchem o nosso coração,
sorrisos ,conversas , lágrimas, segredos partilhados, historias vivitas,
momentos inesquecíveis , olhares penetrantes , beijos tão nossos, tão
especiais… Amo todos pormenores que a
constituem ate o simples facto de ela ter uma excelente relação com a minha
família.
Mais uma vez
estou aqui sentado no Grumpy, mas desta vez é diferente, tudo é diferente desde que a
conhecei, desta vez não estou sozinhom, estou com ela. Fui busca-la a
universidade para virmos tomar o habitual chocolate quente neste dias frios. A
Emma insiste em tirar-nos fotografias sempre que cá vimos, sabe que eu não gosto
propriamente que me tirem fotos principalmente nestes dias que a minha pele
vira ainda mais pálida e a ponta do nariz avermelhada, lábios roxos, mas toda a dedicação que eu lhe possa dar
nunca é demais. Sinto-me como já não me sentia a anos, de alguma forma sinto-me
feliz, ela completa-me, cada dia que passa ela atenua ou de alguma forma cura a
ferida incurável no meu coração.
2
de Setembro de 2001
Sinto-me a pior
pessoa do mundo, a pouca vontade que tinha de viver, agora é nenhuma, toda a
dedicação e amor a partir de agora são
apenas memorias que irão ficar sempre no meu coração . Eu e a Emma tivemos uma
grande discussão, eu sei que ela tem razão sempre teve desde o inicio, afinal
não sou mais que um drogado, um alcoólico, alguém sem objectivos, ela merece
alguém melhor que eu , sem vícios. Ela esperou tempo de mais, esperou que eu
mudasse e eu não mudei e tudo tem um limite, ela acabou comigo. Implorei-lhe
para não o fazer, ela era a razão , era o motivo pelo qual eu me levantava
todos e dias da cama e sorria para o mundo pronto a enfrentar todas as barreiras
de um novo dia, tudo por ela. Como eu sempre suspeitei tudo tem um fim. Os meus
dias sem ela são um vazio que me acompanha no dia a dia, um vazio incapaz de
ser preenchido por mais ninguém, Mais uma vez eu jurei, eu prometi que mudaria
mas como já o tinha feito antes, ela não acreditou e não serviu de nada, mesmo
que ela não acredite eu vou faze-lo porque eu a amo. Estive a conversar com o
meu irmão, ele conseguiu uma entrevista de emprego no próximo dia 11, vou
fazer-lhe uma surpresa e provar que por ela sou e sempre serei capaz de tudo,
pela primeira vez tenho um objectivo e vou conseguir alcança-lo, não por mim
mas por ela. Hoje despeço-me da “ ma vida” e de certa forma despeço-me também desta
espécie de diário. Espero com isto, que a Emma volte para mim, se isso
acontecer talvez não seja a despedida, mas por agora um breve adeus…
Fim do diário de Robert
Diário
da Emma :
11 de Setembro de 2001
9:37 h
Nestes últimos dias percebi que a minha vida
sem o Robert não é a mesma, preciso dele para sorrir, preciso do conforto dos
seus abraços, da segurança da sua companhia. Não faz sentido continuar sem
ele, eu sei que ele não é perfeito mas é
assim que eu o amo, a sua maneira rebelde mas honesta que faziam parte dele. E
hoje tenciono perdoa-lo, de manha antes de ir para a Universidade, passei pela
sua casa mas não estava ninguém , na hora de almoço vou telefonar-lhe para
irmos ao Grumpy , para voltarmos a ser um todo de novo, porque esta falta dele
, fez-me perceber que não consigo viver sem ele.
Hoje à hora de
almoço, liguei-lhe mas não atendeu por isso decidi ligar ao John para saber
onde estava o Robert, como sempre atendeu com a sua boa disposição,
perguntei-lhe logo onde estava o irmão,
ele descaiu-se rapidamente dizendo que o irmão estava numa entrevista de
emprego e logo a seguir atrapalhado com a voz tremula disse que não deveria ter
dito pois era uma surpresa, o Robert tinha-lo feito por mim. Por coincidência a
entrevista situava-se numa das torres em frente à minha Universidade, ainda
falando com o John olhava para as torres imaginando como seria e o que lhe
diria assim que estivesse com ele, várias memórias recordei, imaginando repeti-las sabendo que a partir
deste dia tudo iria voltar a ser como antes e em vez de unicamente recordar as
velhas memórias podia-mos criar novas a partir de agora. Imaginava tudo
enquanto olhava pela janela ainda decidindo as palavras certas, o beijo
perfeito e o abraço tão desejado. Tudo
isto me passava pela mente quando de repente chamas desviaram a minha atenção,
um pó imenso substituíra as duas torres que ainda à segundos se encontravam em
frente a mim, sendo uma delas a torre onde estava o Robert. Sem pestanejar, sem
acreditar ainda no que via lágrimas escorriam pela minha cara inconscientemente
gritava o nome dele num ato de desespero com a esperança que tudo não passa-se
de um horrível pesadelo. Mas não. A verdade estava à frente dos meus olhos, a
angustia inigualável apoderara-se de mim.
Foi o fim.
CC.SA
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